Ela é coordenadora do curso de Biomedicina da Unochapecó e delegada do CRBM5 em Santa Catarina. Além disso, vem sendo reconhecida como mentora educacional, pois desenvolve metodologias de ensino inovadoras, incluindo o uso de inteligência artificial.
Na entrevista abaixo, a biomédica Beatriz Bonadiman fala sobre sua trajetória, o ensino e os desafios das mulheres profissionais e docentes.
Como foi sua trajetória acadêmica e profissional até aqui?
Minha jornada acadêmica e profissional começou em 2010, quando entrei para o curso de Biomedicina na UNOESC. Desde o início, a pesquisa me fascinou, e já no segundo semestre, comecei a atuar voluntariamente em um laboratório da universidade. O contato diário com pesquisadores e professores me inspirou a seguir uma carreira acadêmica.
Conquistei o Mestrado em Farmacologia pela UFSM e o Doutorado em Bioquímica pela UFSC. Também realizei uma especialização em acupuntura. Sempre participei ativamente de eventos e congressos, que foram um diferencial na minha trajetória, para me manter constantemente atualizada.
Meu compromisso com o estudo e o desenvolvimento pessoal e profissional nunca cessou. Durante meu doutorado, iniciei minha carreira de professora, integrando o corpo docente da UNOESC, a mesma instituição onde me formei. Essa transição representou um desafio significativo para mim, trazendo novas responsabilidades. A minha principal preocupação sempre esteve centrada na formação dos estudantes. Sempre fui muito comprometida com o desenvolvimento dos meus alunos, sempre busquei inovar em minhas metodologias de ensino e fazer diferente de todos, sempre fui assim.
Contudo, foi ao assumir a coordenação do curso na Unochapecó em 2021 que percebi a necessidade de uma mudança na minha abordagem pedagógica, as metodologias tradicionais não atendiam mais o que os alunos esperavam do ensino superior. Comecei a perceber alunos cada vez menos engajados, muito dispersos e um aumento da evasão. Nesse período, minhas responsabilidades aumentaram, levando-me a me dedicar ao estudo das metodologias de aprendizado das novas gerações, andragogia e a compartilhar esses conhecimentos com os professores do curso, visando enriquecer a prática docente.
As atividades com o colegiado do curso ultrapassaram as “paredes” da Universidade e hoje tenho uma comunidade com mais de 1300 professores do Brasil, para os quais dou aula semanal sobre inovação pedagógica e uso de inteligência artificial na educação. Professores começaram a me buscar para mentorias e cursos e recentemente junto com o Magno Maciel cientista da OpenAI lançamos o primeiro curso do Brasil IA para professores.
Durante a minha caminhada como docente também assumi como Delegada do CRBM-5 na região de Chapecó. Representar o conselho é uma responsabilidade imensa e também uma grande honra para mim. A minha função é trabalhar ativamente e ser uma ponte entre os profissionais e a gestão do Conselho.
A minha trajetória não foi fácil, saí da casa dos meus pais para fazer Biomedicina com 16 anos. Muitos medos, angústias e dificuldades, mas eu sempre carreguei na minha “mochila” muita coragem e dedicação. Eu não fui a melhor aluna e sei que eu não sou a melhor profissional, mas uma certeza eu tenho que todos os dias eu me levanto da cama honrando a oportunidade que tenho aqui nesta terra de impactar vidas, transformar e realizar os sonhos de milhares de estudantes e professores.
Qual o seu propósito de ensino?
Inspirar professores para que juntos possamos influenciar nossos alunos a impactar o mundo.
Quais são os principais desafios enfrentados pelos professores hoje?
Quando falamos em desafios dos professores nós temos aqueles que estão dentro da sala de aula e os que estão fora dela.
Em sala de aula, os professores enfrentam principalmente a falta de engajamento dos estudantes. Isso se deve fortemente ao modelo pedagógico aplicado no ensino superior brasileiro e não andragógico que é o ensino de adulto e também a uma educação extremamente tradicional, exatamente igual aos anos 60, com salas de aula em quatro paredes alunos sentados em fila indiana.
Fora da sala de aula está o esgotamento físico e mental, o cansaço, a exaustão. Nossos professores estão cada vez mais atarefados e menos valorizados, muitos desistindo da carreira docente, inclusive a evasão de professores da sala de aula muito em breve vai levar o nosso país a ter um “apagão de professores”.
E os desafios para a formação em Biomedicina?
Eu acredito que hoje o principal desafio é acompanhar a evolução tecnológica, por parte dos professores e estudantes.
Na sua visão, qual é a importância de ter mulheres ocupando posições de liderança acadêmica?
No contexto liderança feminina não posso deixar de abordar que as mulheres trazem consigo a sensibilidade materna. São frequentemente pioneiras na implementação de políticas e práticas pedagógicas que reconhecem e valorizam a diversidade de necessidades, estilos de aprendizagem e trajetórias de vida dos estudantes. São fundamentais para promover uma educação mais personalizada e humanizada, que não só abrange o conteúdo acadêmico, mas também considera o bem-estar emocional e social dos alunos.
Quando falamos em liderança educacional, provavelmente, você que está lendo essa matéria está pensando na coordenadora, na diretora, na reitora, cargos mais altos, mas eu acredito que as maiores lideranças femininas são as professoras.
As professoras estão todos os dias em sala de aula e tem a oportunidade incrível e única de impactar a vida de milhares de estudantes com as suas falas. Afinal os estudantes passam pelo menos 22 anos em sala de aula, do ensino básico ao ensino superior, e é nela que a verdadeira transformação da sociedade acontece.