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Biomédica Bruna Comparsi assume Vice-Reitoria de Graduação da Unijuí

12-03-24 | Destaque, Notícias

“É crucial reconhecer a presença feminina como um elemento importante que traz equilíbrio às relações sociais” (Bruna Comparsi)

Mês da Mulher – Biomédicas que inspiram

Bruna Comparsi é professora universitária há 13 anos e já foi delegada do CRBM – 5ª Região. Em dezembro de 2023, a biomédica foi empossada como Vice-Reitoria de Graduação Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Na entrevista abaixo, Bruna Comparsi fala sobre sua trajetória, a Biomedicina na academia e os desafios das mulheres profissionais e docentes.

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Como foi sua trajetória acadêmica e profissional até assumir o cargo?
Minha jornada acadêmica e profissional até aqui foi pautada pelo aprendizado contínuo. Acredito que uma pessoa que quer continuamente estar dialogando com o mundo ao seu redor precisa aprender continuamente também. Desde a graduação em Biomedicina, identifiquei minha afinidade com a carreira acadêmica. Após a conclusão do mestrado e doutorado em Bioquímica na Universidade Federal de Santa Maria, busquei especializações que ampliaram minha atuação, como as especializações em Análises Clínicas e Toxicológicas e, mais recentemente, em Estética Avançada e Minimamente Invasiva. Cada etapa de formação não apenas agregou conhecimento teórico, mas também desenvolveu habilidades, atitudes e experiência profissional na área biomédica.

Iniciei minha carreira docente em 2011 e passei a compor o corpo docente da UNIJUÍ em 2018, após um concorrido concurso. Inicialmente atuei como professora no curso de Biomedicina e ao longo dos semestres seguintes, assumi diferentes responsabilidades acadêmicas e na gestão universitária. Desde a coordenação dos cursos de graduação em Biomedicina, depois Ciências Biológicas e Estética e Cosmética, até uma pós-graduação lato sensu e cursos de curta duração nas áreas de atuação do biomédico. Participei de diversos órgãos e comissões da universidade, como o Conselho Universitário, Comitês de Graduação e de Gestão de Pessoas, entre outros.

Como avaliadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – BASis/INEP tive a oportunidade de conhecer diversas Instituições de Ensino e cursos de Biomedicina no Brasil e como delegada do CRBM – 5ª Região, assumi um papel de grande responsabilidade na representação do conselho em minha região.

A função de delegado(a) é crucial, pois possibilita colaborar ativamente com ações voltadas para orientação e valorização da prática da Biomedicina.

Acredito que minha trajetória permitiu-me ampliar a visão sobre o ensino superior e reafirmar a importância do conhecimento na transformação das pessoas e da sociedade. Tenho convicção de que o ensino de qualidade é uma ferramenta poderosa para mudar vidas e promover o desenvolvimento. Pois as pessoas, ao adquirirem novos conhecimentos, têm o potencial de transformar cenários e impactar positivamente o mundo ao seu redor.

Assumir o cargo de vice-reitora de Graduação na UNIJUÍ é o resultado de mais de 13 anos de dedicação, comprometimento e trabalho árduo, aliados à minha paixão pelo ensino e pela contribuição para o crescimento acadêmico e profissional dos estudantes. Encaro essa nova função na gestão acadêmica de uma universidade comunitária, de caráter regional, com grande responsabilidade, comprometimento e entusiasmo, ciente do grande desafio.

Como a formação em Biomedicina influencia no exercício das funções como vice-reitora?
A formação Biomédica estabelece uma base sólida apoiada em conhecimentos científicos, éticos e habilidades que são fundamentais na gestão acadêmica e na tomada de decisões no contexto universitário. A formação desenvolve uma compreensão abrangente, multidisciplinar e interprofissional, o que permite ter uma visão ampla sobre as necessidades e desafios enfrentados pelos cursos e áreas de formação na universidade. Neste contexto, é muito importante compreender a importância da pesquisa científica, da aplicação e difusão do conhecimento para o avanço acadêmico e científico, sempre impulsionando as atividades de ensino, pesquisa e extensão.

A formação em Biomedicina também proporciona habilidades como a análise crítica, resolução de problemas e tomada de decisões embasadas em evidências, aspectos essenciais para a liderança na gestão universitária.

Além disso, a ética e a responsabilidade social, valores fundamentais na prática biomédica, também são pilares importantes no exercício das funções como vice-reitora.
Portanto, a formação em Biomedicina não apenas oferece conhecimentos técnicos, mas também habilidades e valores essenciais que se refletem na atuação profissional em diversas funções/cargos/atividades/áreas, contribuindo para uma atuação mais ampla, ética, inovadora e comprometida com o desenvolvimento.

Quais são os principais desafios enfrentados no exercício do cargo de vice-reitora?
Ao ser empossada no cargo de vice-reitora, reconheço os grandes desafios que permeiam o ensino superior no Brasil. Dados do Censo da Educação Superior 2022, divulgados em outubro deste ano, revelam que 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos não concluiu o ensino médio nem vai à escola no Brasil. A distribuição nessa faixa etária é a seguinte: 1,2% está “atrasado” e frequenta o ensino fundamental; 9,9% também estão fora do padrão esperado e ainda cursam o ensino médio; 21,2% não vão à escola e não concluíram ensino médio; 20,2% frequentam o ensino superior; 4% já concluíram a faculdade; 43,4% não estão na universidade, mas concluíram o ensino médio.

Outro grande alerta (desafio!): O Censo também evidenciou que apenas 48,2% dos estudantes brasileiros que concluíram o ensino médio em 2022 fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova que possibilita o acesso a universidades públicas (por meio do Sisu) e particulares (por bolsas, no Prouni, e por financiamento, no Fies).

Isso é agravado por um contexto em que 80% dos estudantes brasileiros têm renda per capita de até 3 salários mínimos, ou seja, não têm condições financeiras (ou, no mínimo, enfrentam dificuldades) para acessar a rede privada de ensino superior. Essa realidade se reflete na ocupação das vagas no setor privado, onde 80% delas permanecem não preenchidas, evidenciando barreiras socioeconômicas enfrentadas pelos estudantes.

Estes dados refletem a urgência e a complexidade dos problemas educacionais que precisam ser abordados em todas as etapas do sistema educacional, desde a base até o acesso e a permanência no ensino superior.

Além dos desafios já mencionados, destaco outro grande desafio da gestão que é a motivação do corpo docente. Os professores enfrentam demandas cada vez mais exigentes, enquanto os estudantes têm demonstrado comportamentos desafiadores. O esgotamento de alguns professores reflete as dificuldades encontradas em manter o engajamento, participação e atenção dos estudantes em sala de aula. Os últimos anos, especialmente para aqueles que concluíram o ensino médio de forma remota, resultaram em dificuldade de socialização que os estudantes ainda não conseguiram superar. Isso tem se manifestado em comportamentos anteriormente não observados em ambientes de ensino.

Sem dúvidas, é um cargo que demanda constante adaptação e busca por soluções inovadoras para enfrentar os desafios em um ambiente dinâmico e em constante evolução.

“É crucial reconhecer a presença feminina como um elemento importante que traz equilíbrio às relações sociais”.

Na sua visão, qual é a importância de ter mulheres ocupando posições de liderança acadêmica?
A presença das mulheres em cargos de liderança acadêmica desempenha um papel fundamental na quebra de paradigmas e serve como inspiração para outras mulheres que ainda enfrentam desafios. Para mim, representa uma responsabilidade enorme e uma representação de extrema importância, especialmente por ser a única mulher na equipe de gestão superior da nossa universidade para o mandato atual de 4 anos.

Busco diariamente trabalhar com foco na excelência profissional, sem superioridade ou inferioridade baseada no gênero. Valorizo os espaços que me foram designados para ocupar, da mesma forma que espero que todos façam. Encaro todos como seres humanos, e assim desejo que enxerguem tanto a mim quanto a todas as mulheres: pelo intelecto, pelo que construímos e pelos nossos valores.

Embora a jornada seja desafiadora, é recompensadora. Não nos intimidamos diante de olhares atravessados. Precisamos enfrentar ambientes historicamente dominados pelo sexo masculino e mostrar que somos igualmente capazes de ocupá-los.

Existe um preconceito silencioso, muitas vezes despercebido por aqueles que não vivem e não ocupam cargos de liderança feminina. É crucial reconhecer a presença feminina como um elemento importante que traz equilíbrio às relações sociais. Devemos enxergar a mulher como uma profissional dotada de conhecimentos, habilidades e atitudes.

A limitação da presença feminina no âmbito da liderança de organizações, da pesquisa científica e da política ainda persiste, mas precisa ser superada. A mulher possui o poder de transformar seu entorno, muitas líderes femininas já fazem isso, mesmo enfrentando dificuldades nos bastidores. Portanto, a reflexão que fica é: a mulher pode e deve ocupar qualquer posição, pois possui capacidade e uma natureza sensível, aliada à competência e à determinação para criar mudanças significativas na sociedade.

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