A pandemia do novo coronavirus tem desafiado, entre tantos setores, os órgãos de saúde pública. Distribuição de exames, medidas de restrição, identificação de áreas mais vulneráveis e planejamento para a vacinação são alguns dos temas que tomaram conta de secretarias de saúde municipais e estaduais, das agências de saúde, de laboratórios e de hospitais.
E não se surpreenda se, por trás do desenvolvimento e da aplicação destas políticas públicas para controlar a pandemia, esteja um biomédico. A Saúde Pública é uma das habilitações da Biomedicina que prepara o profissional para trabalhar na avaliação e organização de serviços de saúde e na elaboração e implantação de projetos que promovam a saúde e o bem-estar de populações.
Algumas das disciplinas que fazem parte da especialização do biomédico em Saúde Pública são Epidemiologia, Sistema Único de Saúde, Gestão e Avaliação em Saúde, Vigilância em Saúde, Pesquisa em Saúde e Bioética e Políticas Públicas de Saúde. Estas disciplinas ajudam a capacitar o biomédico para analisar as condições de saúde de grupos populacionais e projetar tendências epidemiológicas; levantar dados e projetar programas de saúde de prevenção, controle e tratamento de doenças; realizar estudos; promover a educação em saúde; executar programas do Ministério da Saúde e participar da vigilância sanitária.
Biomédica habilitada em Saúde Pública, Juliana Nichterwitz Scherer acredita que o caráter multidisciplinar da Biomedicina oferece uma visão ampla da saúde, necessária para o trabalho na área. Nesta entrevista, Juliana, que é coordenadora do curso de Biomedicina da Unisinos, destaca também outros aspectos importantes da habilitação.
– Quais competências o biomédico deve ter para trabalhar com esta habilitação?
Juliana Scherer – O biomédico que trabalha dentro da Saúde Pública deve ter competências técnicas para realizar diagnósticos epidemiológicos, analisar criticamente e conhecer o processo de saúde e doença das populações dentro de seus contextos locais, interpretar e analisar indicadores de saúde, dominar tecnologias de gestão e de processamento de dados e desenvolver e avaliar ações e políticas focadas para a promoção da saúde e prevenção de doenças dentro das comunidades em que atua. Além das habilidades técnicas, o profissional habilitado em Saúde Pública também precisa ter bom relacionamento interpessoal, como, por exemplo, boa capacidade de trabalhar em equipe. Competências como capacidade de resolução de problemas, liderança, empatia, criatividade e adaptabilidade também são diferenciais para atuar na área.
– É uma habilitação que proporciona um bom campo de atuação para o biomédico? Como está o mercado?
JS – A inserção dos biomédicos na Saúde Pública tem crescido bastante nos últimos anos aqui na região Sul do país. Hoje, temos biomédicos ocupando cargos dentro das Vigilâncias Epidemiológicas de municípios, cargos administrativos dentro das Secretarias de Saúde, bem como coordenando projetos voltados para a promoção da Saúde Pública em instituições públicas e privadas. Apesar de não estar entre as habilitações de maior empregabilidade, creio que se trata de uma habilitação com grande potencial, principalmente se pensarmos na excelente capacidade técnica dos biomédicos sobre o olhar integral da saúde e de analisar dados de forma crítica.
– O que você considera de mais interessante nesta habilitação e o que te atraiu a cursá-la?
JS – O meu interesse na Saúde Pública veio pelo fato de que essa habilitação permite transformar a vida das pessoas de forma aplicada e direta. Nesse sentido, foi a habilitação que trouxe significado e propósito para a minha vida profissional. Além disso, essa habilitação permite um contato mais próximo com pessoas (algo que sempre valorizei), é dinâmica (nosso dia a dia de trabalho nunca fica entediante) e nos coloca em constante reflexão sobre questões sociais e de saúde da população. Outros pontos importantes incluem o fato de que a Saúde Pública é uma área muito versátil, que traz diversas possibilidades de atuação. Ainda, é uma área que carece muito de pesquisa aplicada, de profissionais capacitados e de inovação.
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