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Mundo afora: biomédico dedica-se à pesquisa nos EUA

17-05-22 | Destaque, Notícias

Esta é a segunda experiência de Ramon em pós-doutorado nos EUA. Em 2015, ele esteve na Johns Hopkins University

Já na universidade o biomédico Ramon Bossardi tinha claro o seu destino: seguir a carreira acadêmica. Desde então, lá se vai mais de uma década dedicada às pesquisas e ao ensino no Brasil e nos Estados Unidos.

Atualmente, Ramon está fazendo pós-doutorado na Albany Medical College, em Albany, nos Estados Unidos, onde, há dois anos, se dedica exclusivamente à pesquisa dos mecanismos que levam à inflamação e o impacto nas células e nos tecidos. Mas esta não é a primeira experiência em terras americanas. Em 2015, ele foi pós-doutorando na Johns Hopkins University. Na ocasião, estudou mecanismos epigenéticos e doenças multifatoriais.

“A formação como biomédico me deu as habilidades necessárias para seguir nessa carreira e conseguir posições fora do Brasil”, avalia Ramon, que é mestre e doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Nesta entrevista ao CRBM-5, Ramon conta mais sobre suas experiências nos Estados Unidos e dá alguns conselhos para quem quer, como ele, fazer uma carreira acadêmica no exterior.

1 – O que o motivou a sair do Brasil? E por que os Estados Unidos?

Na minha primeira saída do Brasil, o país estava em um momento diferente para a pesquisa. A ideia era ficar um período nos EUA para aprender novas técnicas, ganhar experiência em um grupo internacional e retornar para o Brasil para dar continuidade na linha de pesquisa. Infelizmente, realizar pesquisa no país está a cada ano mais difícil por cortes nas verbas de fomento. Isso me fez sair novamente para poder trabalhar em tempo integral com pesquisa.

Escolhi os EUA devido às oportunidades na minha linha de pesquisa, que abrange pesquisa básica e translacional.

Ramon iniciou sua pesquisa no Albany Medical College em 2020

2 – Quais atividades você está desenvolvendo no momento?

No meu pós-doutorado, busco entender o papel de sinais celulares que regulam a resposta à inflamação e ao choque. Com a pesquisa, esperamos encontrar novos alvos terapêuticos para reduzir o risco de sequelas cardiovasculares, renais e cognitivas de longo prazo em pacientes que sobrevivem à sepse.

Na minha rotina diária uso técnicas de biologia molecular, cultura celular e trabalho bastante com bioinformática para analisar os resultados de sequenciamento, RNA-seq e metilação.

3 – Quais diferenças você identifica na Biomedicina praticada no Brasil e nos EUA? Existe o mesmo curso e profissão?

Nos EUA não temos o curso de Biomedicina. Para profissionais que trabalham em laboratórios de análises clínicas, o mais próximo que existe aqui é, no undergrad (equivalente a graduação no Brasil), o Bachelor of Science(BS/BSc), que possui duração de quatro anos e estuda disciplinas relacionadas à química, biologia e fisiologia. Após, é necessário realizar uma prova para receber o título de “medical technologist”.

4 – Com base nas suas experiências, quais oportunidades profissionais o Biomédico pode encontrar nos EUA?

Na pesquisa, muitas instituições estão em busca de pós-doutorandos para serem responsáveis pela rotina laboratorial e pelos experimentos. A melhor forma de buscar estas vagas é através do site dos departamentos de cada universidade e no LinkedIn. Além disso, um local em que muitos pesquisadores postam suas vagas é o Twitter, onde encontrei a minha posição atual.

Para ser aprovado nestas vagas, é fundamental ter fluência no inglês, bem como mestrado e doutorado, além de uma sólida experiência em alguma área de pesquisa ou técnica que esteja procurando.

5 – Qual é o processo para fazer um pós-doutorado nos EUA?

O primeiro passo é buscar o local de trabalho e fazer a seleção. Após as entrevistas e aprovação para a vaga, são necessários todos os documentos da faculdade, como conteúdo programático, histórico escolar e atividades curriculares e extracurriculares. Tudo deve ser traduzido por tradutores juramentados.

Depois da entrega e aprovação, a própria instituição contratante solicita autorização para visto na embaixada e fica responsável pela sua permanência no país.

É importante ressaltar que, no meu caso, todas as conversas e a organização da viagem começaram quase seis meses antes da mudança. Mudar para os EUA é um processo burocrático e é essencial ter um tempo amplo para preparar toda a documentação, fazer a solicitação e planejar.

A universidade em que Ramon desenvolve a pesquisa faz parte do Albany Medical Center, que possui também um hospital

6- Para quem quer seguir carreira acadêmica, o que um pós-doutorado pode acrescentar?

Um pós-doutorado é uma continuação do treinamento de um pesquisador, que permite que ele avance em seu desenvolvimento profissional e comece a transição de estudante para pesquisador independente. A intenção é que o pós-doutorando obtenha experiência profissional, treinamento em técnicas específicas e, em alguns casos, experiência de ensino.

Os pós-doutorandos também costumam assumir responsabilidades adicionais de liderança ou ensino em seu laboratório ou departamento. Essas posições são geralmente de dois a três anos e não é incomum que se faça mais de um pós-doutorado.

Como pós-doutorando, posso realizar pesquisas, principalmente independentes, colaborar em uma iniciativa de pesquisa multi-acadêmica ou até mesmo ter a responsabilidade principal por componentes de um projeto, tudo sob a direção geral de um pesquisador sênior ou principal.

7 – Que orientações você daria aos biomédicos que desejam estudar ou trabalhar fora do Brasil?

É fundamental, desde a graduação e primeiros anos de formado, construir um currículo competitivo visando boa colocação no país e no exterior. Buscar contato com profissionais de outros países em cursos e congressos na área desejada também pode auxiliar.

Além disso, é importante estar atualizado com a literatura científica internacional. Saber quais são as novas pesquisas e publicações irá fazer com que o biomédico se destaque.

Sempre lembrando que é preciso ter muita dedicação e paixão pela profissão e estar disposto a renunciar muitas outras coisas para focar na pesquisa.

Como biomédico e com toda a formação acadêmica no Brasil, acredito que temos um treinamento para nos adaptarmos em diferentes situações, o que é essencial.

Imprensa CRBM-5

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