O combate ao novo coronavirus já se estende por cinco meses no Brasil. O Laboratório de Análises Clínicas (LAC) da Univates, localizado em Lajeado (RS), entrou no campo de batalha logo no início, em março, sendo um dos primeiros laboratórios credenciados pelo Estado para trabalhar no diagnóstico do vírus e se tornando um dos centros mais importantes na identificação dos casos de Covid-19 no Rio Grande do Sul.
Neste período, o LAC realizou mais de 17 mil testes RT-PCR, sorológicos e rápidos, atendendo 40 prefeituras e 100 empresas. À frente do laboratório que é referência na região do Vale do Taquari, está o biomédico Jairo Luís Hoerlle, que também é diretor do Serviços em Saúde da Univates, do qual faz parte o LAC.
Voltado inicialmente às práticas acadêmicas dos estudantes dos cursos de saúde da Univates, hoje o LAC também atende demandas externas, realizando exames de patologia clínica para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Lajeado e para o público em geral. Outros 12 biomédicos trabalham na unidade, inclusive a responsável pelo setor de Biologia Molecular, Andréa Horst, que coordena a implementação do protocolo otimizado de RT-PCR para Covid-19, desenvolvido pelo SENAI/FIRJAN, em parceria com a Petrobras e UFRJ.
Nesta entrevista ao CRBM-5, Hoerlle explica como funciona e quais são os benefícios deste protocolo, além de analisar os desafios que os gestores de serviços de saúde enfrentam no combate à pandemia.
– O que foi necessário, em termos de recursos e de capacitação dos profissionais, para o LAC começar a trabalhar no diagnóstico do novo coronavirus?
Foi necessário, primeiramente, entender as necessidades dos serviços de saúde e da sociedade com relação às exigências de identificação do coronavírus. Após essa caracterização, constituiu-se uma área específica para realização de dosagens por Biologia Molecular, para além da área já existente de exames clínicos de rotina. Foram realizados treinamentos com os colegas que participaram das dosagens, direta ou indiretamente, tais como: coletas, desenvolvimento de testes de RT-PCR e utilização de EPIs. Foram adquiridos equipamentos e insumos para o início dos trabalhos e, com o passar do tempo, novas aquisições foram realizadas, tanto para a otimização das rotinas de RT-PCR, como para a identificação sorológica de imunoglobulinas relacionadas ao Covid-19.
– Qual a média diária de testes realizados para o novo coronavirus?
De 200 a 250 testes diários.
– Como surgiu a oportunidade de adotar o protocolo desenvolvido pela Petrobras, SENAI e UFRJ? Como funciona este protocolo?
Fomos procurados por integrantes do Centro de Pesquisas da Petrobras, que nos apresentaram um protocolo otimizado de RT-PCR para Covid 19, desenvolvido pelo SENAI/FIRJAN, em parceria com a Petrobras e UFRJ, que tinha como objetivo otimizar a testagem para detecção do novo coronavírus. Este protocolo emprega a metodologia considerada padrão-ouro pela OMS para diagnóstico do SARS-CoV2, o RT-qPCR, adaptado às abordagens de pooling test e de ensaio multiplex, que podem ser usadas em conjunto ou individualmente. Ambas contribuem consideravelmente para a redução do custo operacional e do tempo necessário para liberação dos resultados. O objetivo deste desenvolvimento é promover a testagem em massa para diagnóstico da COVID-19, em um momento em que a demanda pela realização destes testes supera muito a capacidade produtiva dos centros de diagnóstico a nível nacional, bem como a disponibilidade dos insumos necessários. Após o início da utilização do protocolo, já foi possível ampliar em até 50% o número de pessoas atingidas pelo teste de RT-PCR para Covid-19, em populações específicas, considerando o percentual de positividade de cada região.
– Quais são os principais desafios de um profissional que, como o senhor, lidera um serviço de saúde no enfrentamento da pandemia?
É necessário buscar o alinhamento e as informações sobre o que está acontecendo nas mais diversas áreas da saúde, entender o comportamento e a evolução da pandemia nos diferentes locais, com intuito de antecipar as necessidades relacionadas à realização dos testes. É preciso, também, dar condições a todos os envolvidos para que possam realizar seus trabalhos da melhor forma. Talvez um dos principais desafios seja a obtenção de insumos em quantidade e qualidade adequadas.
– Qual a importância da etapa de diagnóstico para o controle da doença?
A importância está na condição de auxiliar os serviços médicos e epidemiológicos com subsídios para a tomada de decisão quanto ao isolamento social. Também para o direcionamento de tratamentos clínicos mais assertivos.