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Biomédica auxilia no diagnóstico do novo coronavirus no Lacen-RS

08-07-20 | Destaque, Notícias

“Por se tratar de uma doença nova, existem inúmeras lacunas, principalmente em relação à letalidade, tratamento, possível imunidade e ao potencial de infecção” – Lisiane Smiderle, biomédica do laboratório municipal de Porto Alegre

Um dos grandes desafios no controle da pandemia do novo coronavirus é a agilidade da testagem da população. Por isso, o Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul buscou parceria com laboratórios municipais e privados para reforçar o atendimento. O acordo de colaboração com o Laboratório Central de Saúde Pública de Porto Alegre possibilitou à biomédica Lisiane Smiderle entrar no campo de batalha contra a Covid-19.

Lisiane atua há seis anos no laboratório de Porto Alegre, município que conta com o cargo de biomédico desde 2010. Atualmente, ela trabalha no setor de imunologia realizando o diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis e é responsável técnica substituta do laboratório, coordenado pela também biomédica Gabriele Serra Brehm. No Lacen-RS, no entanto, Lisiane é a única biomédica a integrar a equipe.

Nesta entrevista, Lisiane nos conta como foi sua transição à equipe do Lancen e como tem sido a sua experiência na linha de frente de combate ao novo coronavirus.

1- Quando você iniciou o seu trabalho junto à equipe o Lacen-RS, foi necessária alguma capacitação para fazer os exames dedicados a detectar o novo coronavirus?

Através de uma parceria realizada entre os Laboratórios Municipal e Estadual eu fui cedida para o Estado para atuação durante a pandemia. Essa cedência ocorreu, também, pois, após a conclusão da minha graduação em Biomedicina, eu realizei mestrado e doutorado na área de Biologia Molecular. Então, durante aproximadamente seis anos de pós-graduação com dedicação exclusiva, dentro da faculdade eu aprendi e executei diferentes técnicas de biologia molecular e dentre elas a rt-PCR em tempo real, que é a técnica utilizada pelo Lacen-RS para a detecção do vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19.

Essa experiência adquirida na universidade foi muito relevante nesse sentido, entretanto, quando cheguei ao Lacen-RS, eu recebi treinamento em todas as etapas do fluxo para o diagnóstico molecular da Covid-19. Pois, cada laboratório, seguindo as normas da legislação, tem um fluxo de atividades que devem ser corretamente executadas para um resultado final confiável.

Dessa forma, no que diz respeito à biossegurança, eu fui treinada para a correta manipulação das amostras em todo o fluxo de etapas da análise. Além disso, fui treinada para a realização de extração do RNA viral, preparo do mix de reação de PCR, preparo da placa de reação, pipetagem de reagentes e amostras, operação de equipamentos e avaliação dos resultados.

2- Como está o fluxo de testagem? Quantos testes são feitos por dia?

O fluxo de número de testes diários oscila, mas tem se mantido alto, pois, embora outros laboratórios, tanto privados quanto vinculados a instituições de ensino e hospitais, tenham iniciado a testagem pela metodologia de rt-PCR em tempo real, o Lacen-RS atende à demanda de todo o RS. Então, diariamente são recebidas amostras de vários municípios. É difícil precisar um número, pois depende da demanda dos municípios. Já tivemos dias com mais de 400 resultados liberados. Para atender a demanda, o trabalho se estende também aos finais de semana.

É importante destacar que, além do teste molecular para o diagnóstico da Covid-19, o Lacen-RS dispõe de uma grande expertise no diagnóstico molecular de outros vírus respiratórios como a Influenza A e B e também no diagnóstico molecular de arboviroses (dengue, zika e chycunkunia). Tais vírus circulam sazonalmente em nosso Estado causando doença, por isso a importância do seu diagnóstico.

3- Qual a importância desta etapa de diagnóstico para o controle da Covid-19?

A testagem molecular, considerada padrão-ouro para o diagnóstico laboratorial da Covid-19, é de fundamental importância. O princípio dos testes moleculares está baseado na amplificação – reação que replica o número de cópias do genoma viral – e detecção da fluorescência produzida como consequência da amplificação do genoma viral. Uma das grandes vantagens dos ensaios moleculares é a sua versatilidade. Eles podem ser desenhados para a detecção de qualquer ácido nucléico (DNA ou RNA) de qualquer microorganismo e, dentre eles os vírus. A partir do sequenciamento do genoma viral é desenvolvido o ensaio de diagnóstico molecular.

E foi assim que, após o sequenciamento do genoma do SARS-Cov-2, rapidamente foram disponibilizados os testes moleculares. Os protocolos dos genes-alvo do SARS-Cov-2 podem variar pois, podem ser pesquisados genes virais diferentes, mas que são conservados nesse subtipo viral. Outra vantagem do diagnóstico molecular é que ele fornece a informação de doença ativa/recente. Conforme os dados da literatura, a partir do primeiro dia após o surgimento dos sintomas o teste molecular pode detectar a presença do genoma viral. Essa informação, somada à característica de elevado potencial de infectividade viral, é de grande relevância para o correto manejo do paciente, no sentido de se fazer o isolamento domiciliar ou hospitalar, bem como na definição da conduta médica.

4- Do ponto de vista de quem está na linha de frente de combate ao coronavirus, quais aspectos você considera mais desafiadores para o controle da pandemia?  

Estamos diante de um cenário totalmente atípico, novo, de muitas perguntas e com respostas ainda muito tímidas acerca de um tipo de vida microscópico que está interferindo na vida de todos, em todos os aspectos. Por se tratar de uma doença nova, existem inúmeras lacunas, principalmente em relação à letalidade, tratamento, possível imunidade e ao potencial de infecção.

Enquanto a comunidade científica trabalha e divulga resultados de estudos observacionais, meta análises e modelos matemáticos que podem nos auxiliar a compreender o comportamento desse novo tipo de coronavirus, não podemos deixar de fazer o que está ao nosso alcance. Toda e qualquer situação nova nos desafia a mudar. E, nesse contexto, a prevenção e a informação científica devem ser nossos aliados. E a prevenção – através do uso correto da máscara e etiqueta respiratória, e higiene das mãos – é a única forma de controle da disseminação viral que temos até o momento. E a produção científica é crucial para melhor compreendermos a doença permitindo a busca de soluções.

5-Você acredita que os profissionais de diagnóstico estão mais valorizados devido a esta pandemia?

Eu tenho a convicção que sim. A área da saúde como um todo está demonstrando uma importância e empenho grandiosos diante desse cenário. A própria população está buscando esclarecimentos e se apropriando das informações sobre os processos e fluxos tanto de testagem quanto no manejo dos sintomas dos infectados e isso é muito importante.

Desde meados do mês de março deste ano, muitas informações novas sobre a gravidade da doença em diferentes grupos de pacientes e também relacionadas ao perfil bioquímico e imunológico do paciente com Covid-19, estão surgindo. Para os profissionais que são responsáveis pelo diagnóstico, que estão na bancada executando as análises laboratoriais e elaborando os laudos, cada novo relato é importante. O diagnóstico laboratorial é uma peça importantíssima do quebra-cabeças e, quando aliado com a clínica do paciente, pode salvar vidas!

Imprensa CRBM-5

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