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Biomédica participa de pesquisa sobre transfusão de plasma convalescente

24-09-20 | Destaque, Notícias

Desde que a pandemia do novo coronavirus tomou conta do mundo, os profissionais da saúde estão em busca das melhores opções de tratamento contra a Covid-19. Pesquisas em diversos países têm estudado a eficiência da transfusão de plasma convalescente, tratamento que foi utilizado contra epidemias recentes como as do SARS, Ebola, Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e, também, na pandemia do H1N1.

Especialista em hematologia, Bruna Blos está desde 2011 no HCPA.

A expectativa é que os anticorpos presentes no plasma das pessoas que se recuperaram da Covid-19 possam auxiliar o sistema imunológico do paciente que sofre da mesma doença a reagir contra o vírus. “É uma forma de imunização, mas diferente das vacinas, pois os anticorpos já estão formados e são transferidos de forma passiva”, explica a biomédica Bruna Blos, que integra a equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) cuja pesquisa de transfusão de plasma convalescente iniciou em julho deste ano.

O estudo desenvolvido no HCPA prevê, neste primeira etapa, utilizar a técnica em 80 pacientes até poder analisar e divulgar os primeiros resultados. No entanto, outras pesquisas semelhantes realizadas ao redor do mundo, inclusive no Rio Grande do Sul, têm indicado que o plasma convalescente impede o agravamento da Covid-19 quando utilizado no início da doença.

Em conversa com o CRBM-5, Bruna compartilhou detalhes sobre a pesquisa e contou um pouco dos estudos em hemoterapia que realiza no HCPA.

– Quais são as etapas do tratamento por transfusão de plasma convalescente?

Tudo inicia com a divulgação e captação de doadores. Nesta parte é realizado o contato com os possíveis doadores e o que chamamos de qualificação destes, antes da sua doação efetiva. São realizados alguns questionamentos e os exames previstos em legislação para doação de sangue: tipagem ABO/RhD, pesquisa de anticorpos irregulares e sorologia para HIV, HBV, HCV, Doença de Chagas, VDRL e HTLV I/II, e testes moleculares (NAT) para HIV e hepatites B e C, assim como alguns requisitos específicos da pesquisa como quantificação de anticorpos para o coronavírus. Sabemos que alguns indivíduos não possuem estes anticorpos detectáveis no sangue periférico, e eles são imprescindíveis. Após isso, o doador qualificado realiza a coleta de acordo com os procedimentos de rotina do serviço, através de equipamentos de aférese, na qual é coletada apenas a parte de interesse do sangue, neste caso o plasma.

Os pacientes são selecionados pela equipe médica do projeto e alocados nos grupos controle ou intervenção (grupo que receberá o plasma convalescente). Os plasmas são selecionados da mesma forma que o processo de transfusão de rotina do banco de sangue e infundidos em dois momentos: no dia da seleção e 48h depois.

– Há um momento ideal para que o paciente receba a transfusão?

Como o foco do estudo é a atuação dos anticorpos contra o vírus, é interessante que a sua infusão seja mais no início da infecção, quando a viremia é mais alta.  Outros estudos já demonstram que a eficácia é maior nos primeiros dias de internação hospitalar, e estamos seguindo essa premissa.

A pesquisa do HCPA iniciou-se em julho. Desde lá, foram realizadas 40 transfusões. (Foto: Divulgação HCPA)

– Qual é o seu papel na pesquisa?

O grupo da pesquisa é bem grande e estamos divididos em grupos menores. Eu faço parte do grupo que organiza, separa e tabula os exames dos doadores e dos pacientes nos dias pré-estabelecidos e faz o controle do que foi enviado para cada paciente. Também atuo na parte assistencial do projeto, que não é ligado diretamente à pesquisa, auxiliando na qualificação de doadores e fazendo os testes  pré-transfusionais, preparo, registro e envio das transfusões.

– Além do tipo sanguíneo, é necessário algum outro tipo de compatibilidade entre o doador do plasma e o receptor?

Para os testes de compatibilidade no receptor, são realizadas tipagem sanguínea ABO/RhD e pesquisa de anticorpos irregulares. Mas para a transfusão do plasma convalescente é levada em conta apenas a compatibilidade ABO entre doador e receptor, assim como fazemos nas demais transfusões de componentes plasmáticos.

– É possível adiantar algum resultado que esteja sendo observado durante a pesquisa?

O estudo teve início em julho e, desde então, foram transfundidos mais de 20 pacientes e realizadas cerca de 40 coletas. A proposta é promissora e parece haver uma boa resposta, mas os resultados ainda não foram analisados. Por ora não podemos afirmar nada.

– Você já havia participado de alguma pesquisa semelhante antes?

Eu trabalho na Unidade de Terapia Transfusional do Serviço de Hemoterapia e neste serviço são desenvolvidas pesquisas nas áreas de refratariedade plaquetária, aloimunizacao eritrocitaria, reações transfusionais e outras. Minha participação nestas pesquisas é indireta, mas diária, com validações de técnicas, protocolos e relatos de caso. No ano passado, terminei meu mestrado, em uma parceria com o Hospital Albert Einstein, para realizar genotipagem de grupos sanguíneos em pacientes com Síndrome Mielodisplásica (SMD), técnica que pretendemos implantar no hospital. Acredito que a pesquisa na área de hemoterapia está em expansão e fico feliz com isso, pois temos muito campo para explorar.

Imprensa CRBM-5

 

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